The Backrooms - by Kane Pixels

The Backrooms: Storytelling de terror online

“The Backrooms” é um espaço imaginário de corredores amarelos sem fim e mal iluminados.

Há muitas maneiras de os fãs de terror se assustarem – desde pegar um romance de Stephen King, ver um filme de John Carpenter ou até mesmo pressionar o play em um episódio do podcast “Welcome To Night Vale”. Mas uma comunidade crescente de criativos acha que o próximo grande conto de terror pode não vir de um livro ou filme, mas sim da internet.

Na era digital em que vivemos, é muito mais fácil para qualquer pessoa com conexão à internet compartilhar suas histórias, suas fábulas, suas obras de arte para o público. Esse gênero emergente de narrativa online é colaborativo – qualquer um pode construir a partir da ideia de outra pessoa. E, ao contrário de outras comunidades de fãs, que se adaptam e adicionam propriedades existentes como “Supernatural”, “Doctor Who” ou “Sherlock”, muitos fãs de terror estão criando histórias e mundos inteiramente novos para outros mergulharem.

Uma das histórias mais populares desse novo gênero é “The Backrooms” – um espaço imaginário de corredores amarelos sem fim e mal iluminados. A ideia é baseada – não em um livro ou filme – mas em uma foto para um quadro de mensagens online em 2019. Essa foto foi postada primeiro no 4Chan, e depois migrou rapidamente para o Reddit. Essa imagem era de um tipo de espaço interno e sem janelas, como um porão ou corredores de escritório antigo… Ela foi tirada em um ângulo estranho, e é extremamente diferente e inquietante à primeira vista.

Foto original que começou a trend - The Bakcrooms

Foto original que começou a trend – The Bakcrooms

A postagem original não contém nenhuma informação sobre quando ou onde a foto foi tirada, ou quem a tirou. Mas uma coisa é certa – a imagem evoca um tipo muito específico de sentimento em muitos que a olham. É um sentimento que tem a ver com nosso relacionamento com o que é conhecido como “espaços liminares”. É um espaço normal, que de alguma forma agora está alienado, porque não está fazendo sua função normal.

Salas de espera de aeroportos vazias ou lobbies de hotéis são exemplos de espaços liminares – lugares que normalmente estão cheios de pessoas que por algum motivo foram abandonados. Outro espaço liminar comum é uma escola após o término das aulas do dia. Se você já esteve em sua escola depois do expediente e está vazio, há uma sensação muito estranha. Muitos desses jovens criadores de conteúdo que estão se envolvendo com o tema The Backrooms contam histórias de experiências formativas, de liminaridade.

A foto inspirou um usuário anônimo a escrever uma legenda curta, imaginando como seria se encontrar em The Backrooms, onde não há nada além do fedor de carpete velho e úmido, a loucura das paredes amarelo-claras, o interminável ruído de fundo das lâmpadas fluorescentes e aproximadamente 600 milhões de metros quadrados de salas vazias segmentadas aleatoriamente, perfeitas para se perder e ficar preso.

A imagem original gerou uma primeira história que conjurou quase um universo inteiro de inspiração para pessoas envolvidas em escrita, cinema, arte, criação de videogames, ilustração, até música e paisagens sonoras.

The Backroom - By Kane Pixels

The Backroom – By Kane Pixels

Kane Parsons, um colegial que possui o nickname online de “Kane Pixels”, é um dos criadores mais populares de The Backrooms. Sua coleção de curtas-metragens rendeu dezenas de milhões de visualizações no YouTube, a maioria das quais ele fez usando o software 3D gratuito “Blender”. Seus vídeos contam a história de uma organização sombria, chamada ASYNC, que no final dos anos 1980 abre um portal que conecta o mundo real aos The Backrooms. É uma história lenta com foco tanto na política da ASYNC quanto no governo dos Estados Unidos, bem como nas funções sobrenaturais e confusas do complexo.

Parsons está longe de estar sozinho – o conteúdo dos The Backrooms aumentou em popularidade nos últimos anos, com alguns criadores explorando como são os outros andares das salas amarelas e outros preenchendo esses espaços com monstros. As criaturas, inclusive, variam de “o plausivelmente assustador”, como pessoas que se movem rapidamente, como seres das sombras, até outras meio deliberadamente bobas.

Como em muitas comunidades online, surgiram divisões. Alguns fãs desaprovam as histórias mais alegres que surgiram em The Backrooms, preferindo o horror isolado da foto original. Ao contrário dos fandoms que surgem em torno de propriedades existentes – onde há uma clara distinção entre narrativa canônica e fanfiction – nenhuma pessoa é o “dono” de The Backrooms, o que significa que é mais difícil traçar uma linha entre narrativa autêntica e piadas. Para Parsons, embora entenda o ponto de vista dos puristas, sua estratégia é focada em contar histórias que se expandam no post original, mantendo a atmosfera que ela evoca.

The Backrooms é apenas um exemplo de um gênero emergente de terror online colaborativo. Outras histórias incluem a Fundação SCP – um site no estilo Wikipedia onde qualquer pessoa pode documentar “anomalias; itens e criaturas que não seguem as regras da natureza como as conhecemos”. Ou há o Mystery Flesh Pit National Park, um parque nacional fictício no Texas que também é um misterioso e vivo poço de carne.

A quantidade de esforço e paixão que as pessoas têm para se envolver com essas histórias, esses pedaços de folclore ou essas mitologias emergentes, é algo muito novo e próprio de uma nova geração, que cresceu on-line e também está conectada a um impulso humano muito antigo que une o storytelling e a arte, e as funções que elas desempenham nas nossas comunidades.

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Traduzido e adaptado livremente de ABCNews.com

Thiago Amadigi
Thiago Amadigi
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Co-founder da B! e filmmaker. Star wars, vídeo game e Madonna, sempre. Tenho dificuldades para me equilibrar na cadeira do escritório. Gosto de discutir os grandes temas da vida: MasterChef, política e cinema. Nessa ordem.

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