james em toledo

Para que serve esse tal de Storytelling?

Vou confessar uma coisa, depois de uns trinta e tal anos de profissão, dez entre dez colegas, inclusive eu, quando conversamos a respeito de nosso trabalho, parecemos nos lembrar de apenas quatro perguntinhas básicas que os participantes de nossos eventos de formação sempre nos fazem:

  1. Isto de contar histórias exige talento?
  2. O seu trabalho é pegar uma pessoa sem talento e fazer dela um contador de histórias, dar a ela um dom que Deus deveria ter-lhe dado?
  3. Eu não sei contar uma história nem que chova canivetes, você pode me ajudar?
  4. Se tem técnica para isso, por que há tanta história mal contada por aí? (Referindo-se, no meu caso, normalmente a livros mal escritos).

Muitos de vocês estarão comigo nos meus workshops nos próximos meses, ainda assim, vou responder e já daremos esta “fase” como (quase) concluída antes do nosso futuro encontro:

  1. Não.
  2. Não.
  3. Sim.
  4. Pois é…

“Pois é…” é o problema.

Teoricamente, a resposta não é complicada. Em vez de “contar”, “mostra”. Simples. Em inglês, dizemos: SHOW, DON´T TELL.

Interessante é que no nosso cérebro – e só dentro do nosso cérebro – vivemos as histórias ‘EPISÓDIO EMOCIONAL POR EPISÓDIO EMOCIONAL’. Tudo muito claro, muito lógico. “É claro que é assim…”, diz a voz lá dentro. Entretanto, na hora de relatar “o todo”, fragmentado em episódio emocional por episódio emocional, para que o nosso interlocutor aja ou reaja, fantasiamos que o nosso blá-blá-blá boca fora, do jeito que sair, bastará para que o pobre coitado entenda perfeitamente o que emocionalmente se passou na nossa cabeça.

Se o que desejamos é ganhar a atenção com o propósito de levar o outro a agir, despejar um resumo, resuminho ou resumão que a nada levem, não leva a nada. Os fragmentos de informação que normalmente comunicamos são tímidos demais, com lógica de menos, e mal embrulhados em ‘episódios de emoção’ para causar algum efeito.

Chato isso, não é?

Numa empresa, organização, escola ou projeto, então, não comunicar direito é receita para desastre. Portanto, quer na sala de reuniões da firma, na sala de aula ou na mesa do bar com amigos, poucas coisas funcionam tão bem quanto uma “história bem contada”. Durante, talvez, os últimos 100 mil anos, histórias têm sido a única ferramenta de que dispomos para vender as nossas ideias, os nossos produtos, os nossos serviços, a nós mesmos; educar, instruir e ensinar (vejam no dicionário como distingo essas três coisas). Uma história estrategicamente colocada levará a ‘audiência’ para além dos meros factos a verdadeiramente abraçar uma visão mais ampla da realidade.

Por exemplo, na semana passada, um autor com quem trabalho, insistia em ‘engajar’ o futuro leitor com a frase: “Os soldados estavam mentindo para ele e o sargento desconfiava. Sentia-se incomodado, mas meio perdido, sem verdadeiramente saber o que fazer.”

– Tá bom, James?

– Não.

– Já sei!

O autor coçou a cabeça, coçou a cabeça e coçou a cabeça, reescreveu e me passou o papel: “O sargento desconfiava que os soldados mentiam para ele. Sentia-se incomodado, meio perdido, sem saber o que fazer.”

– Desculpa, James – disse ele, já, como tantos, de olhinhos brilhando a espera do elogio –, pequei na lógica e usei umas palavras fracas. Advérbio enfraquece o texto, não é mesmo? Que tal agora?

Agora, pensei, continua a mesma porcaria. Não é tirando palavras ou ajeitando o português que vai virar uma “história bem contada”. Se apenas informação me engajasse eu levava a lista telefónica nas minhas viagens (grátis), em vez de levar o Dan Brown (7,99 libras esterlinas mais uma fila imensa para pagar, num aeroporto abafado).

Como se faz isto, então?

Pois bem, se quisermos que a audiência aja ou reaja, o dito autor deveria ter “mostrado” a historinha.

Mais ou menos assim:

“Certo fim de tarde, o sargento já apertava o punho, aprontava-se para esmurrar a cara de cada um daqueles dez soldados. Estavam atrasados mais de hora e o vento frio no portão do forte já lhe havia congelado os pés, os joelhos e, agora, subia cada vez mais depressa. Decidiu então que era hora de empunhar o rifle, fechar o portão e se recolher.

– Sargento. Não me deixe aqui fora.

Naquele momento, um soldado gordinho se aproximava, fumacinha saindo da boca.

– Mil desculpas, sargento – disse ele – Mas posso explicar. Tive um compromisso que atrasou um pouco, corri para pegar o ônibus e acabei perdendo. Então, peguei um táxi que pifou no meio da estrada. Felizmente, consegui achar uma fazenda, comprei um cavalo que galopou por um quilómetro e pouco e caiu morto. Enfim, tive que correr esses dez quilómetros. O importante é que estou aqui!

O sargento ia mandar que o rapaz parasse com a lorota. Pensava o quê? Que lidava com um idiota?

Mas, afinal de contas, o soldado estava ali, o frio era de rachar, e mandou que entrasse.

Pouco depois, mais um soldado apareceu e outro e outro, até totalizar oito.

A história era a mesma: compromisso que atrasou, ônibus perdido, táxi que pifou no meio da estrada, uma fazenda, cavalo comprado que galopou por um quilómetro e caiu morto, corrida de dez quilómetros e o importante é que havia chegado.

Quanta baboseira. Mas já que havia deixado o primeiro entrar não ia ser injusto com os demais e mandou que entrassem.

Só faltava o último. Se chegar, quando chegaria?

Outra hora de mais vento e ainda mais frio se passou até que ouviu ao longe um grito.

– Sou eu, sargento. Não feche o portão.

Era o último. Ofegava mais que o primeiro.

– Mil desculpas, sargento – disse ele. – Mas posso explicar. Tive um compromisso que atrasou um pouco, corri para pegar o ônibus e acabei perdendo. Então, peguei um táxi que…

– Já posso adivinhar – interrompeu o sargento –, o táxi quebrou no meio da estrada.

– Não, senhor. O táxi não teve problema nenhum, o problema é que na estrada tinha tanto cavalo morto que levou um tempão para a gente conseguir passar.”

‘Engajou’? Envolveu?

Nem precisa chover canivetes para envolver a audiência. Basta evidenciar o que está a acontecer, criar um toque de suspense aqui e ali e – BINGO! – temos uma historinha que evoca emoções através dos princípios e técnicas do STORYTELLING. Entender como funcionam as histórias serve para tudo, para o que já citei acima neste artigo, bem como para comunicar, criar e manter a identidade e reputação de uma empresa, por exemplo, ou até a sua própria identidade e reputação junto a amigos na mesa do bar, motivar alguém a saltar ou não de uma ponte ou a votar ou não em um determinado candidato.

Tudo muito fácil e divertido!

Tudo muito ‘storytelling’.

James McSill

uma das maiores autoridades mundiais em Storytelling

Aproveite a oportunidade: Certificação Internacional em Storytelling

Conheça mais sobre James McSill

Post originalmente postado no Linkedin[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

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Uma boa história pode ser contada em uma mesa de bar, mas também pode ser utilizada para convencer uma pessoa, vender um produto, compartilhar uma ideia, transmitir uma informação difícil ou facilitar a compreensão de dados. Invista na habilidade #1 da liderança empresarial.

James McSill
James McSill
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Um dos consultores de histórias mais bem-sucedidos do mundo, autor, conferencista e filantropo.

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