histórias encantadoras

O caminho único para histórias encantadoras

Não é exagero afirmar que sem ar, sem água, sem comida e sem histórias — exatamente nesta ordem — nós não sobrevivemos. Sem abrigo e outros ‘sem’ tendem a vir bem depois. Houve uma época em que a escassez de água e comida (principalmente) fazia parte da dor do existir, ar e histórias, contudo, sempre houve em abundância. As histórias encantadoras hipnotizam. Para o bem ou para mal, despertam em nós uma compulsão como o respirar. Hipnotizam, pois tal como o respirar, as histórias têm ritmo. E é deste ritmo, que tornam as histórias tão essenciais à nossa existência, é que lhes quero falar hoje.

Pausem por um momento e sintam a respiração: inspirem e expirem. IN >EX. Não há como quebrar este ritmo. Não temos um EX>IN, ou um EX >EX, IN>IN ou IN>EX>EX. O natural será sempre inspirar e expirar. Assim são as histórias!

Ao construirmos uma história magnética seguimos o que já nos deu a natureza.

 

INSPIRAR: a cena de ação!

O inspirar é o absorver ou levar outrem a absorver a história para dentro de si. Puxar os elementos externos para que criem uma imagem mental. Se fosse ar, seria encher os pulmões sugando o ar pelo nariz ou a boca, como são histórias, é encher o cérebro (ou o coração) de emoções, sugando, trazendo, levando para dentro de si a realidade exterior percebida por meio dos cinco sentidos e as pequenas reações que ela (a realidade imediata) nos leva a sentir. É percebermos a nós, com os nossos sentidos e recriarmos esta percepção no cérebro alheio pela manipulação do ver, ouvir, cheirar, provar e tocar, e as pequenas reações imediatas que experimentamos neste processo.

Em síntese, comece uma cena de uma história observando os pormenores do mundo que deseja criar e cuide para, em primeiro lugar, tê-lo claro na sua mente, a fim de que logo após o transmita ao seu interlocutor (leitor, ouvinte, plateia, audiência, cliente etc.).

Uma cena de ação, “inspira-se” (trazemo-la para dentro de nós assim):

Vesti a minha roupa de viagem e calcei os tênis — dando adeus às minhas botas favoritas — e coloquei a mochila nas costas, segurando apertado em suas alças. Eu sentiria saudades daquele apartamento, daquela cidade, daquela vida do mesmo modo como um ex-presidiário sente falta de sua cela na prisão, o que se resume a: Nem. Um. Pouco. Meu pai estava dormindo no sofá horroroso da sala. O sofá tinha flores cor-de-rosa, e a cor agora parecia mais um marrom alaranjado, como se até mesmo as plantas de tecido pudessem morrer por negligência no nosso apartamento. Passei por ele e saí. Meu pai emitiu um pequeno ronco, mas nem por isso se moveu. Nos últimos anos ele se acostumou a ver as pessoas partindo (…)

Vesti a minha roupa de viagem e calcei os tênis — dando adeus às minhas botas favoritas — e coloquei a mochila nas costas, segurando apertado em suas alças | AÇÕES VISTAS POR FORA, COMO QUE FILMADAS |. Eu sentiria saudades daquele apartamento, daquela cidade, daquela vida do mesmo modo como um ex-presidiário sente falta de sua cela na prisão, o que se resume a: Nem. Um. Pouco. |REAÇÃO IMEDIATA À AÇÃO ANTERIOR, QUASE SIMULTÂNEA | Meu pai estava dormindo no sofá horroroso da sala. O sofá tinha flores cor-de-rosa, e a cor agora parecia mais um marrom alaranjado, como se até mesmo as plantas de tecido pudessem morrer por negligência em nosso apartamento. Passei por ele e saí. Meu pai emitiu um pequeno ronco, mas nem por isso se moveu. | AÇÕES VISTAS POR FORA, COMO QUE FILMADAS |. Nos últimos anos ele se acostumou a ver as pessoas partindo (|REAÇÃO IMEDIATA À AÇÃO ANTERIOR, QUASE SIMULTÂNEA |

Observem como o autor primeiro nos leva a recriar uma imagem externa e das reações imediatas ou simultâneas. Entendemos o ‘o que’, o ‘onde’, o ‘quando’ e, caso já não os deduzamos, o ‘como’ e o ‘porquê’.

 

EXPIRAR: a cena de reação ou reflexão!

O expirar é o refletir sobre TUDO o que se passou na cena de ação. Observem que não é refletir ou pensar em qualquer coisa, mas considerar, ponderar o ocorrido. Isto mostra à nossa audiência o impacto emocional que a ação que o personagem experimentou viveu e que pautará as suas futuras ações. Em resumo, o personagem para a fim de que possa pensar, externalizar do seu subconsciente ao consciente o que a ação, a aventura externa que viveu, agora tornada consciente mudou ou pode mudar algo dentro de si ou no mundo em que habita.

Vejam o ritmo: ação/reação! IN>EX…

Uma cena de reação, “expira-se” (levamo-la assim para o nosso consciente — ou o consciente do personagem):

No corredor, do lado de fora, eu parei. Pensei nele acordando e se arrastando até à cozinha para fazer café. Ele veria como a deixei limpa e ficaria grato de verdade, e talvez decidisse voltar para casa mais cedo do trabalho e fazer um jantar de família (ou um jantar para o que resta da família). Então ele esperaria por mim à mesa, do mesmo modo que esperei por ele tantas noites, até a comida esfriar. Finalmente ele perceberia: eu havia partido. Uma dor pesada se espalhou pelo meu peito (…)

No corredor, do lado de fora, eu parei. |O AUTOR LEVA O LEITOR A SAIR DA CENA DE AÇÃO E ENTRAR NOS PENSAMENTOS, REFLEXÕES DO PERSONAGEM | Pensei |INDICA QUE AGORA ESTAMOS DENTRO DA CABEÇA DO PERSONAGEM, EM PROFUNDA REFLEXÃO| nele acordando e se arrastando até à cozinha para fazer café. Ele veria como a deixei limpa e ficaria grato de verdade, e talvez decidisse voltar para casa mais cedo do trabalho e fazer um jantar de família (ou um jantar para o que resta da família). Então ele esperaria por mim à mesa, do mesmo modo que esperei por ele tantas noites, até a comida esfriar. Finalmente ele perceberia: eu havia partido. Uma dor pesada se espalhou pelo meu peito (…) |REFLEXÃO.

Vale salientar que a reflexão tem três partes, cuja ordem é imutável. O levar a refletir (No corredor, do lado de fora, eu parei. Pensei nele…) que conduz a um dilema, o personagem precisa apresentar duas opções do que imagina que aconteceu ou irá acontecer (… talvez decidisse voltar para casa mais cedo do trabalho e fazer um jantar de família (ou um jantar para o que resta da família).) e uma conclusão, que nada mais é do que uma escolha que o personagem faz que dará rumo à história.

E tem mais! Para arrematar, trazemos o personagem do mundo dos pensamentos profundos para outra vez entrar numa realidade imediata e deparar-se com uma sensação física (preparação para a próxima cena de ação). |Uma dor pesada se espalhou pelo meu peito (…)|

O leigo tende a achar que uma história pode ser contada de qualquer jeito e, mesmo assim encantar, ter algum efeito. No dia a dia vivemos com histórias imperfeitas, a maior parte do tempo pouco nos importamos com o que o outro quer dizer, pois as parvoíces que vomita não nos afetam. Porém, se precisamos de elaborar histórias transformadoras, quer para encantar uma audiência, como uma escritora encanta com um belo romance, um cineasta com o seu filme ou um dramaturgo com a sua peça, quer para encantar um cliente, persuadir uma audiência, vender uma ideia, comunicar empaticamente, as histórias tem de ter uma sintaxe. A sintaxe será sempre, sem exceção, IN>EX ou ação/reação.

É complexo?

Sim, mas não muito. O que faço nos meus cursos é justamente levar os participantes a darem-se conta da estrutura subjacente às histórias, identificá-las e recriá-las para os seus mais variados intentos. O trabalhar as histórias com um propósito específico é o que chamamos de STORYTELLING. Para isto, jamais se iluda, não há fórmulas, não há um template que sirva para todos os casos. Storytelling não é técnica, então? Sim é técnica, tanto que há como ensinar. Mas, sobretudo, é ARTE. E para o senso artístico não há truque para o aprendermos, apenas o aguçamos.

 

Assim é o Storytelling: técnica e arte. Complexo e simples. Acima de tudo, fascinante.

Se respirarmos ar poluído sobrevivemos? E se bebermos água contaminada? Comermos comida estragada? E vivermos ao relento? Sim! Possivelmente sobreviveremos por algum tempo, mas será uma vida pobre, uma existência desgraçada. Daí, cada vez mais, as civilizações buscam ar puro, água limpa, comida fresca e um ambiente saudável onde morarmos. E porque não histórias bem elaboradas? Porquê negligenciar as histórias que são tão essenciais à sobrevivência humana? Sem elas, audiências são sufocadas, leitores mortos à míngua, vendas perdidas sem o abrigo da boa comunicação. Um curso de Storytelling, obviamente, vale para melhorar as vendas de uma empresa, para escrever aquela história, para dar aquela palestra, aquela aula, para escrever aquele artigo, para fazer aquela apresentação. Só que isto é apenas a consequência de quem se dedica às histórias, pois, primeiro que tudo, as histórias bem alinhadas encantam, definem, moldam e mudam vidas. MAGNETIZAM!

Saiba mais sobre o verdadeiro Storytelling.

Postado originalmente em ComunicaçãoMaisEficaz.com

James McSill
James McSill
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Um dos consultores de histórias mais bem-sucedidos do mundo, autor, conferencista e filantropo.

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