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A Política como Propulsora de Histórias

Política pode não ser o tema preferido de muita gente. Também pudera, quem vive no Brasil assim como eu, política não é um tema que, digamos, nos dê muito orgulho. Mas tem algo nela que sempre me fascinou. Primeiro porque política não é algo que se faça sozinho. É tarefa para um grupo, e não um grupo pequeno. É sempre composto por pessoas dos mais diferentes tipos e crenças. Convergência de opinião é raríssima. O que nos dá personagens incrivelmente profundos. Enxergamos nos políticos os mais diversos arquétipos, vemos um como herói, outro como vilão, sempre tem aquele que dá um jeito de aparecer para tentar roubar a cena, um que se faz de vítima da maioria. O complicado, que está metido em todo tipo de confusão, o mais velho, cujo valorizamos a opinião. Tanto o lado como vemos como o bem, quanto o que vemos como o mal tem suas tropas, e elas farão o diabo para atingir seus objetivos. Tudo isso acontece em uma arena bem delimitada, que conhecemos tão bem de tanto que vemos nos noticiários. É quase como quem viaja para New York depois de ver tantos filmes que se passam na cidade. Tudo é novo, mas fica uma sensação de déjà vu.

O jogo político é uma história em movimento. Todos os dias vemos conflitos que se resolvem, apenas para novos guiarem a sua atenção. Por mais que tentemos fazer previsões, nos momentos em que as circunstâncias parecem tão bem definidas, elas mudam num instante, como o vento. E esse é o segundo ponto que me encanta. A incerteza do que está para acontecer, a imprevisibilidade, personagens trocando de lado, ao sabor da sorte. Pelo menos é isso o que nos levam a crer. Tudo é muito mais intrincado, cheio de nuances, cinza, os menores acontecimentos geram uma mudança, às vezes, radical na trajetória da história. E por mais que pareça que um acontecimento é um fato isolado num ambiente com tanto dinamismo, ele não passa de apenas mais uma peça nesse intrincado quebra-cabeças do jogo de poder. Um jogo que nunca termina. São apenas os personagens que mudam.

E se não bastasse tudo isso, ainda tem a história. Políticos são contadores de histórias natos. Dominam a arte de encantar seu público com contos sobre a infância difícil, os problemas que enfrentaram na vida, o relacionamento complicado com os pais. Histórias com as quais nos identificamos e por isso nos tornamos cúmplices, aceitando e acreditando a verdade por eles contada. Existe também as nossas histórias, as que ficamos imaginando sobre o que acontece nos bastidores, nas reuniões, encontros secretos. As teorias da conspiração que aparecem sempre quando algo sucede, mais não temos noção de como aconteceu. Aquele jogo de bastidor que alterou sem mais nem menos o que dávamos como certo. Essa metalinguagem ajuda a tornar a política um caldeirão de histórias que se renovam todos os dias, das quais temos apenas uma certeza: irá nos surpreender, como sempre.

Thiago Amadigi
Thiago Amadigi
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Co-founder da B! e filmmaker. Star wars, vídeo game e Madonna, sempre. Tenho dificuldades para me equilibrar na cadeira do escritório. Gosto de discutir os grandes temas da vida: MasterChef, política e cinema. Nessa ordem.

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